A taxa de detecção de aids em menores de cinco anos caiu
36% nos últimos seis anos, passando de 3,9 casos por 100 mil habitantes, em
2010, para 2,5 casos por 100 mil habitantes, em 2015. A taxa em crianças dessa
faixa etária é usada como indicador para monitoramento da transmissão vertical
do HIV. Os dados são do novo Boletim Epidemiológico de HIV e Aids de 2016,
divulgado nesta quarta-feira (30) pelo Ministério da Saúde, por ocasião do Dia
Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro. Na solenidade,
realizada em Brasília, também foi lançada certificação para municípios que conseguirem
eliminar a transmissão vertical.
“A redução de 36% na transmissão de mãe para filho foi possível graças a
ampliação da testagem, que promovemos nos últimos anos, aliados ao reforço na
oferta de medicamentos para as gestantes”, explicou o ministro Ricardo Barros,
nesta quarta-feira.
Para incentivar o engajamento dos municípios no combate à transmissão vertical,
o Ministério da Saúde está instituindo, com os estados, um selo de Certificação
da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis no Brasil. Tendo como
base uma adaptação de critérios já estabelecidos pela Organização Pan-Americana
da Saúde (Opas), a certificação será concedida a municípios cujas taxas de
detecção de aids em menores de 5 anos sejam iguais ou inferiores que 0,3 para
cada mil crianças nascidas vivas e proporção menor ou igual a 2% de crianças
com até 18 meses. Serão certificados, prioritariamente, os municípios com mais
de 100 mil habitantes. A certificação será emitida por um Comitê Nacional, em
parceria com estados, que fará a verificação local dos parâmetros. Os
municípios receberão certificação no ano que vem, no Dia Mundial de Luta contra
Aids. A estratégia conta com o apoio da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a
Infância); Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids no
Brasil) e OPAS.
A diretora do UNAIDS Brasil, Georgiana Braga-Orillard, elogiou a queda das
taxas de transmissão vertical. “ O caminho para o fim da epidemia, é o início
da vida sem HIV e aids. Os dados apresentados pelo Brasil na redução da
transmissão vertical são parte do trabalho de enfrentamento da situação em todo
o mundo”, observou a diretora da entidade, durante a solenidade de apresentação
dos dados. Segundo ela, desde 2000 até hoje, a queda da transmissão vertical
evitou a morte de 1,6 milhão de bebês, em todo o mundo.
De acordo com o novo boletim, 827 mil pessoas vivem com HIV/aids. Outro dado expressivo
que consta no novo Boletim é a queda 42,3% na mortalidade em 20 anos. O
incentivo ao diagnóstico e ao início precoce do tratamento, antes mesmo do
surgimento dos primeiros sintomas da doença, refletiram na redução dessas
mortes. A taxa caiu de 9,7 óbitos por 100 mil habitantes, em 1995, para 5,6
óbitos por 100 mil habitantes em 2015. Os dados se referem ao ano de 2015.
A epidemia no Brasil está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 19,1
casos, a cada 100 mil habitantes. Isso representa cerca de 41,1 mil casos novos
ao ano. Desde o início da epidemia de aids no Brasil (em 1980) até o final de
2015, foram registrados 827 mil pessoas que vivem com HIV e aids. Desse total,
372 ainda não estão em tratamento, e, destas, 260 já sabem que estão infectadas.
Além disso, 112 mil pessoas que vivem com HIV não sabem.
“Inserir essas pessoas nos serviços de saúde, por meio da testagem e do início
imediato do tratamento, é a prioridade do ministério”, afirmou Ricardo Barros.
Dessa forma, estaremos impactando diretamente epidemia, pois vamos reduzir a
circulação do vírus entre a população, acrescentou.
Ainda segundo o boletim, a partir da implantação do tratamento para todos, em
2013, o número de pessoas infectadas e tratadas, subiu 38%. De 355 mil, em 2013,
para 489 mil pessoas atualmente.
Desde o surgimento da Aids, o Brasil vem tomando posição de vanguarda na oferta
de tratamento e assistência às pessoas que vivem com HIV/aids. Em 2013, o
Ministério implantou Novo Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV e
Aids, que disponibiliza o tratamento da infecção para todos. De janeiro a
outubro de 2016, 34 mil novas pessoas com HIV e aids entraram em tratamento
pelo SUS. Atualmente, são 489 mil pessoas em tratamento.
MUDANÇA DE PERFIL - A epidemia tem se concentrado principalmente, entre
populações vulneráveis e nos mais jovens. Os dados mostram uma mudança.
Enquanto que em 2006, a razão entre os sexos era 1,0 caso em mulher para cada
1,2 casos em homem, em 2015, é de 1 caso em mulher para cada 3 casos em homens.
Além disso, os casos em mulheres tem apresentado queda em todas as faixas, em
especial, na faixa de 25 a 29 anos. Em 2005, eram 32 casos por 100 mil
habitantes. Em 2015, esse número foi de 16 casos por 100 mil habitantes. Já
entre os jovens do sexo masculino, a infecção cresce em todas as faixas
etárias. Entre jovens de 20 a 24, por exemplo, a taxa de detecção subiu de 16,2
casos por 100 mil habitantes, em 2005, para 33,1 casos em 2015.
Para a diretora do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, Adele
Benzaken, essa vulnerabilidade pode ser explicada por várias hipóteses, como o
fato dos jovens não frequentarem os serviços de saúde e a própria negação de
sua condição do soropositivos. A diretora também ressaltou a necessidade de
criar formas inovadoras de comunicação com esse público, como a maior interação
na redes sociais.
Um das principais ações nesse sentido é a chamada “prevenção combinada”, que
oferece um cardápio de alternativas que vão muito além do uso do preservativo
masculino (e feminino). Dentre as ofertas, estão a Profilaxia Pós-Exposição
(PEP), por exemplo – uma terapia antirretroviral de 28 dias para evitar a
multiplicação do HIV no organismo de uma pessoa após sua exposição ao vírus –,
está disponível em serviços de saúde de todo o país. Já a Profilaxia
Pré-Exposição (PrEP), administrada antes da exposição ao HIV, está em fase
final de estudos no Brasil, prometendo integrar o menu de opções de prevenção,
oferecidas aos brasileiros pelo SUS.
90-90-90 – O Brasil tem avançado no controle da infecção, tendo alcançado
melhoras significativas em todos os indicadores. O alcance das metas de 90% das
pessoas testadas, 90% tratadas e 90% com carga viral indetectável até 2020, estabelecida
pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), é um dos
resultados mais expressivo das ações de combate ao HIV e aids no país.
No diagnóstico, o Brasil passou de 80%, em 2012, para 87%, em 2015, o que
equivale a 715 mil pessoas. A ampliação da testagem é uma das frentes da nova
política de enfrentamento do HIV e aids no país. Em 2015, foram realizados 8,5
milhões de testes. Os maiores incrementos foram observados na meta relacionada
ao tratamento, que passou de 44%, em 2012, para 64%, em 2015, ou 455 mil
pessoas. Na meta referente à redução da carga viral, o país passou de 75%, em
2012, para 90% em 2015, ou 410 mil pessoas.
AUMENTO DA PEP – O Ministério publicou um novo Protocolo Clinico de
Diretrizes e Tratamento que simplifica os procedimentos para o uso de
medicamentos antirretrovirais após exposição ao vírus do HIV. Publicada em
agosto de 2015, o documento recomenda um esquema único de tratamento a todas as
situações. Além disso, há também a redução do tempo de acompanhamento dos
pacientes, que passa de seis para três meses. Todas essas mudanças fizeram com
que o número de Profilaxia Pós Exposição (PEP) aumentasse em três vezes:
passando de 7,9 mil tratamentos, em 2014, para mais de 23 tratamentos em 2016.
OFERTA DO DOLUTEGRAVIR – Outro avanço é a oferta do Dolutegravir,
considerado atualmente o melhor medicamento para tratamento da Aids, por
apresentar uma série de vantagens como potência muito alta; nível muito baixo
de eventos adversos; maior comodidade para o paciente: uma tomada diária;
tratamento eficaz por mais tempo e menor aparecimento de vírus resistentes ao
longo do tratamento. A substituição do atual “efavirenz”, para pacientes que
iniciam terapia antirretroviral acontecerá no primeiro semestre de 2017 e a
expectativa é atingir, inicialmente, 100 mil pacientes.
ENVOLVENDO JOVENS – Como parte das comemorações do Dia Mundial de Luta
contra a Aids, o Ministério da Saúde realiza o Talk Show “Pergunta Aê”.
Transmitido ao vivo por meio das mídias sociais do Ministério da
Saúde/Departamento das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, o evento no
formato de talk show terá a participação de youtubers interagindo com os
convidados especiais, que vão responder perguntas dos próprios youtubers,
perguntas dos usuários on line e da plateia do Teatro Plinio Marcos (Sala
Funarte). Na ocasião, haverá uma banda tocando e haverá os Youtubers (vide
convite).