Os adoçantes podem fazer com que os usuários tenham mais
fome e comam mais, de acordo com um novo estudo feito por cientistas
australianos e publicado nesta terça-feira, 12, na revista científica Cell
Metabolism. A pesquisa foi feita com o adoçante artificial sucralose,
amplamente utilizado no contexto doméstico e na indústria, incluindo diversos
produtos considerados "diet" ou "sem açúcar".
Pesquisas anteriores em humanos e animais já sugeriam que
os adoçantes podiam estimular o aumento do consumo de comida, mas o novo estudo
confirma a hipótese e explica qual é o mecanismo por trás disso e mostra quais
efeitos os adoçantes produzem no cérebro ao regular o apetite e alterar a
percepção do sabor.
Os cientistas da Universidade de Sydney e do Instituto de
Pesquisa Médica Garvan - ambos na Austrália - revelaram no cérebro um sistema
até agora desconhecido que é responsável por integrar as sensações de doçura e
de conteúdo energético do alimento.
De acordo com um dos autores do estudo, Greg Neely, professor
da Faculdade de Ciências da Universidade de Sydney, o adoçante desequilibra a
integração entre a sensação do sabor doce e o conteúdo de energia da comida,
fazendo com que o cérebro estimule um maior consumo de calorias.
"Depois de uma exposição prolongada a uma dieta que
continha o adoçante artificial sucralose, nós observamos que os animais
começaram a comer muito mais", disse Neely ao Estado.
"Por uma investigação sistemática desse efeito,
descobrimos que nos centros de recompensa do cérebro, a sensação de doçura está
integrada com a que percebe o conteúdo energético. Quando a relação entre
doçura e energia é desequilibrada por um tempo, com o adoçante, o cérebro faz
uma calibragem e começa a aumentar o consumo total de calorias", explicou Neely.
No estudo, moscas drosófilas foram expostas a uma dieta
com inclusão do adoçante artificial por cinco dias - um período prolongado para
uma mosca. Depois disso, os cientistas observaram os animais por três dias,
enquanto eles se alimentavam com comida sem adoçante. As moscas que haviam sido
submetidas ao adoçante consumiram em média 30% mais calorias, em comparação às
moscas que se alimentaram com comida adoçada naturalmente.
"Quando fomos investigar por que os animais estavam
comendo mais, mesmo já tendo consumido calorias suficientes, descobrimos que o
consumo crônico desse adoçante artificial na realidade 'engana' o cérebro ao
aumentar a intensidade do sabor doce. Quando o animal começa a se alimentar com
comida sem adoçante, o cérebro não encontra a mesma intensidade de doçura e
isso aumenta a motivação do animal para ingerir mais comida", disse Neely.
Segundo os autores do estudo, bilhões de pessoas em todo
o mundo consomem adoçantes artificiais, que são muitas vezes prescritos como um
recurso para tratar a obesidade, embora pouco se saiba até agora sobre seu
impacto integral no cérebro e na regulação do apetite.
O novo estudo, segundo eles, é o primeiro a identificar
como os adoçantes artificiais podem estimular o apetite. Os cientistas
identificaram uma complexa rede neural que responde à comida adoçada
artificialmente, sinalizando ao animal que ele ainda não ingeriu energia
suficiente.
"Usando essa resposta às dietas adoçadas
artificialmente, nós pudemos mapear uma nova rede neural que equilibra a palatabilidade
da comida com o conteúdo energético. A rota que nós descobrimos é parte de uma
resposta evolutiva do cérebro à fome, que faz com que os alimentos mais
calóricos nos pareçam mais saborosos", afirmou o cientista.
Os pesquisadores também descobriram que os adoçantes
artificiais provocam hiperatividade, insônia e queda da qualidade do sono -
comportamentos coerentes com um estado de jejum. Os efeitos no sono são
semelhantes aos que já foram relatados em estudos com humanos.
Mamíferos. Para descobrir se os adoçantes naturais
também aumentam a ingestão de comida em mamíferos, Herbert Herzog, do Instituto
de Pesquisa Médica Garvan, replicou os resultados do estudo utilizando
camundongos.
Os camundongos que consumiram uma dieta adoçada com
sucralose por sete dias apresentaram um aumento considerável no consumo de
comida, segundo os autores do estudo, e as redes neurais envolvidas no efeito
foram as mesmas encontradas nas moscas.
"Essa descoberta reforça a ideia de que variedades com 'zero açúcar' de comidas e bebidas processadas podem não ser tão inertes como se pensava. Os adoçantes artificiais podem realmente mudar a percepção do sabor doce na comida, com uma discrepância entre a doçura e os níveis de energia que leva ao aumento do consumo de calorias", disse Herzog.