Estudo com estudantes de 12 a
17 anos mostra que frutas sequer aparecem na lista dos 20 itens mais consumidos
e que 56,6% fazem refeição em frente à TV. Saúde promove ações de incentivo à
alimentação saudável
Entre os 20 alimentos mais consumidos pelos adolescentes
brasileiros, os refrigerantes estão entre os seis primeiros, à frente das
hortaliças, e as frutas sequer aparecem na lista. Os dados são do Estudo de
Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) realizado pelo Ministério da
Saúde e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que aponta ainda
índice de 8,4% de obesidade entre meninos e meninas de 12 a 17 anos.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, assinou nesta quinta-feira (7), portaria
que traz as diretrizes para promoção da alimentação saudável nas unidades da
pasta em todo o país. A proposta é estender essas regras aos demais órgãos e
entidades da administração direta federal. O ministro também apresentará
proposta para mudança legislativa a ser aplicada às escolas públicas e
privadas. “Precisamos reduzir as causas e os danos por comportamentos de
riscos, como sedentarismo e uma alimentação rica em sódio e açúcar, que levam a
doenças como obesidade e hipertensão”, destacou.
Segundo o ministro, a mudança precisa acontecer de dentro para fora. Por isso,
o lançamento dessa portaria, que passa a valer, inicialmente, para todas as
unidades do Ministério da Saúde. O objetivo é estender as diretrizes aos demais
órgãos do governo federal. “As refeições pagas com recursos da pasta e
ofertadas em todas as unidades vinculadas devem seguir o protocolo de
Alimentação Saudável”, afirma Barros. Segundo o ministro, atualmente, os
pacientes com comportamento de risco, que abrange obesidade, sedentarismo,
alcoolismo e tabagismo, são o grande desafio da saúde brasileira. “É preciso
investir em saúde preventiva. É melhor para a população e onera menos o orçamento
do Sistema Único de Saúde”, ressalta.
A portaria que define as Diretrizes para Promoção da Alimentação Adequada e
Saudável, do Ministério da Saúde, abrange tanto as refeições disponibilizadas
no restaurante da pasta quanto nas cantinas e as refeições dos eventos
realizados pelo órgão. A maior parte da oferta deve ser de alimentos dos
seguintes grupos: cereais, raízes e tubérculos, verduras e legumes, frutas,
castanhas e outras oleaginosas, leite e derivados, carnes, ovos e pescados.
Também fica proibida a venda, promoção, publicidade ou propaganda de alimentos
industrializados ultraprocessados com excesso de açúcar, gordura e sódio e
prontos para o consumo.
Com o intuito de promover e orientar a alimentação saudável em todas as
instituições do país, o Ministério da Saúde criou um Guia para elaboração de
refeições que vai contribuir com a melhoria da qualidade da alimentação das
pessoas que prestam serviços nesses locais. Os Departamentos deverão considerar
essas orientações na elaboração de termos de referência ou processo para
contratação de empresas que realizam, por exemplo, coffee breaks, brunchs,
coquetéis e almoços.
ERICA – O Erica, Estudo de Riscos
Cardiovasculares em Adolescentes, reúne dados de cerca de 75 mil estudantes de
12 a 17 anos. São alunos de 1.247 instituições públicas e privadas distribuídas
em 124 municípios, todos eles com mais de 100 mil habitantes. O estudo é uma
parceria do Ministério da Saúde com a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
O estudo apontou que a dieta dos adolescentes brasileiros
é caracterizada pelo consumo de alimentos tradicionais, como arroz (82,0%) e
feijão (68,0%), e ingestão elevada de bebidas açucaradas (56,0%) e alimentos
ultraprocessados, como refrigerantes (45%), salgados fritos e assados (21,88%),
e biscoitos doces e salgados, sendo o refrigerante o sexto alimento mais
referido (45,0%). Esse padrão associa-se à elevada inadequação da ingestão de
cálcio, vitaminas A e E e ao consumo excessivo de ácidos graxos saturados,
açúcar livre e sódio – mais de 80% consomem sódio acima dos limites máximos
recomendados (5 gramas por dia).
A prevalência do consumo de frutas foi baixa, e esse grupo de alimentos ficou
entre os 20 mais consumidos somente entre os meninos de 12 a 13 anos (18,0%). O
café (64,0%) ficou entre os cinco alimentos mais consumidos somente na região
Norte. O feijão foi o segundo alimento mais consumido nas regiões Sudeste,
Centro-Oeste e Nordeste. A região Sul apresentou a maior prevalência de consumo
de refrigerantes (51,0%). As hortaliças (54,0%) configuraram entre os cinco
alimentos mais consumidos somente na região Centro-Oeste.
COMPORTAMENTO ALIMENTAR – O Erica verificou, também, que 56,6%
dos adolescentes fazem refeições “sempre ou quase sempre” em frente à TV.
Índice é mais elevado entre alunos de escolas públicas. Maior tempo assistindo
TV foi significativamente associado ao menor consumo de frutas e verduras e
maior consumo de proporções de salgadinhos, doces e bebidas e elevado teor de
açúcar. Com a mesma frequência de comer assistindo televisão, 39% afirmaram
consumir petiscos em frete às telas. As meninas consumiram com maior frequência
‘sempre ou quase sempre’ refeições e petiscos em frente às telas (TV, vídeo
games e computadores).
Em relação à prevalência, 73,5% dos adolescentes afirmaram passar duas ou mais
horas por dia em frente às telas. Hábito mais frequente entre meninos, alunos
de escolas particular e do Sul. O percentual de adolescentes que “sempre ou
quase sempre” assistem TV enquanto realizam as principais refeições variou de
48%, no Norte, a 62%, no Centro-Oeste.
Menos da metade (48,5%) diz que “sempre ou quase sempre” toma café da manhã. E
21,9% nunca tomam. Em relação a comer com a família, 68% informaram que “sempre
ou quase sempre” fazem refeição com os pais ou responsáveis. A realização de
refeições em família é um importante aspecto familiar que influencia a promoção
de comportamento alimentares saudáveis na adolescência e sua manutenção na fase
adulta. O ERICA identificou, ainda, que 48,2% dos adolescentes têm o hábito de
ingerir cinco ou mais copos de água por dia.
PERFIL ADULTO – A
Pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (VIGITEL 2015) levantou que 19% dos brasileiros têm o
hábito de consumir refrigerante ou suco artificial em cinco ou mais dias da
semana. Quando avaliado o consumo de feijão, 64,8% dos brasileiros comem o
alimento quase todos os dias ou cinco ou mais dias da semana.
Em relação ao consumo de frutas e hortaliças regularmente, 37,6% da população
adulta costumam se alimentar do produto cinco ou mais dias da semana. Sendo
43,1% dentre as mulheres e 31,3% dentre os homens. Vale destacar ainda os
hábitos em consumir doces e carnes com excesso de gordura (carne vermelha ou de
frango com pele). Sobre o doce, 20,1% dos adultos consomem em cinco ou mais
dias da semana, sendo 22,1% em mulheres e 17,6% entre os homens. Já o consumo
de carnes com excesso de gordura estar presente em 31,1% dos adultos. A
frequência está entre os homens 42,6%, comparado às mulheres 21,4%.
OBESIDADE E SOBREPESO- O Erica também apontou que 17,1% dos
adolescentes de 12 a 17 anos estão com sobrepeso. Já 8,4% dos jovens avaliados
estão obesos, sendo meninos com maior porcentagem 10,8% e meninas 7,6%.
Em relação aos adultos brasileiros, 18,9% são obesos. Em 2010, era 15%. Aumenta
com a idade, chegando a 32,2% nas mulheres com 55 a 64 anos. Foi verificado
ainda que 53,9% dos adultos estão acima do peso nas capitais brasileiras. É
maior entre homens (57,6%) que mulheres (50,8%).