O Conselho Regional de
Medicina de São Paulo (CRMSP) pediu ontem que médicos não receitem aos
pacientes fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”, sob
risco de cassação do registro profissional.
Em audiência pública realizada pela Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), o presidente do CRM-SP, Bráulio Luna, disse que,
caso a instituição receba denúncias de prescrição da substância, o médico
responsável será processado e punido.
A fosfoetanolamina é produzida em um laboratório
sem qualificação sanitária para produção de fármacos no Instituto de Química da
Universidade de São Paulo (IQSC) em São Carlos,no interior do Estado.A“pílula
do câncer”não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
nem o laboratório possui autorização para trabalhar com síntese de medicamentos.
A única pessoa que fabrica a substância é um
químico do laboratório no IQSC, Salvador Claro Neto, um dos detentores da
patente da substância, junto com o professor aposentado Gilberto Chierice e
outras quatro pessoas. Por 20 anos, o grupo produziu e distribuiu as pílulas
gratuitamente para pacientes com diagnóstico de câncer, tendo como base estudos
preliminares em camundongos. “A substância não é liberada para uso médico pela
Anvisa, não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e as pessoas não
podem fazer uso de remédio que não for autorizado.
Se tiver denúncia (contra os médicos), o Conselho
vai abrir sindicância para saber se ele tem autorização de algum órgão
competente para usar a droga. O médico vai sofrer o devido processo legal, que
vai desde uma advertência até uma cassação”, disse Luna.
O presidente do CRM descartou a publicação de
resolução para determinar os procedimentos aos médicos. “Não tem nenhuma
(resolução) porque não há razão para ter. Essa é uma substância que vai começar
a ser testada agora. Mesmo que dê um resultado razoável nesses ensaios
clínicos, não quer dizer que a droga vai entrar no mercado”, afirmou.
O CRM-SP já havia se manifestado
publicamente,afirmando que a droga não é reconhecida e, portanto, os
profissionais não devem prescrevê-la – com exceção daqueles que estejam em
protocolos de pesquisa e tenham licença para fazer uso da substância.
Batalha judicial. Também participaram da audiência
dois procuradores da USP, Maria Paula Dallari e Aloysio Vilarino. Eles voltaram
a se queixar do volume de ações judiciais que estão travando o sistema da
universidade. Segundo a instituição, em um mês, a Procuradoria-Geral recebeu 2
mil novos processos. Hoje, são 15 mil ações, segundo Maria Paula, que vêm de
quase todos os Estados – com exceção, até agora, de Roraima e Amapá. A
Procuradoria chega a receber mais de cem processos de pedidos de
fosfoetanolamina por dia de um só oficial de Justiça. “Para a Procuradoria,
isso não é um medicamento. É uma substância que ainda precisa passar por etapas
de testes. A USP não foi criada para produzir remédio”, disse Maria Paula.
Fonte: O Estado de S. Paulo - 18.03.2016