Um estudo constatou a presença do vírus no sangue de 42
pacientes na Polinésia Francesa
Por Renata Mariz
29 de fevereiro de 2016•
BRASÍLIA - Novas evidências cientificas associam o zika à
Síndrome de Guillain-Barré, que atinge o sistema nervoso e pode levar à morte.
Um estudo constatou a presença do vírus transmitido pelo Aedes aegypti no
sangue de 42 pacientes que tiveram a doença, entre novembro de 2013 e fevereiro
de 2014, na Polinésia Francesa. A pesquisa analisou ainda dois grupos de
controle, chegando à estimativa do risco de ser acometido por Guillain-Barré:
24 pessoas por 100 mil infectados por zika.
O estudo, financiado pelo Laboratório de Excelência em
Biologia Integrativa de Doenças Infecciosas Emergentes, que congrega parceiros
como Instituto Pasteur, foi publicado nesta segunda-feira na revista científica
The Lancet. Os autores estimaram o risco de Guillain-Barré considerando a
Polinésia Francesa durante a epidemia de zika vivida pelo território entre
outubro de 2013 e abril de 2014.
De acordo com os dados levantados, 88% dos pacientes com
Guillain-Barré tiveram sintomas de zika seis dias antes do início dos problemas
neurológicos. Um dos autores do estudo, o pesquisador Arnaud Fontanet, do
Instituto Pasteur, em Paris, destacou que os resultados indicam que o zika deve
ser adicionado à lista de patógenos infecciosos suscetíveis a causar a síndrome
que causa paralisia.
O professor da Universidade da Austrália, David W Smith,
ressaltou, no entanto, que os dados são ainda escassos para saber se o zika que
circula atualmente é igual ao verificado nas epidemias anteriores, como a que
atingiu a Polinésia Francesa. Ele ponderou ainda que o comportamento do vírus
pode ser diferente entre populações com aspectos genéticos diversos. Além
disso, para Smith, é necessário entender se há um cofator responsável pelo
desenvolvimento do Guillain-Barré.
Todos os 42 pacientes foram diagnosticados com um tipo de
Guillain-Barré denominado neuropatia aguda motora axonal, mas poucos pacientes,
segundo os pesquisadores, tinham marcadores biológicos geralmente associados a
essa variação da doença. O fato sugere, na avaliação dos estudiosos, que há um
mecanismo desconhecido da enfermidade. Os pacientes, em geral, recuperaram-se
mais rapidamente do que o esperado, afirma o artigo científico.
O primeiro grupo de controle recrutado pelos
pesquisadores era formado por 98 pacientes sem febre que foram atendidos no
mesmo hospital que os 42 que tiveram Guillain-Barré. O segundo tinha 70
pacientes com teste positivo para zika, mas que não desenvolveram nenhum
sintoma neurológico. Nos três grupos, houve alta proporção de sinais de
infecção de dengue no passado, de 82,9% a 95,2%. Os dados levaram o grupo de
cientistas a concluir que a doença não aumenta o risco de Guillain-Barré.
Dos 42 pacientes com Guillain-Barré, 16 (38%) foram
submetidos a cuidados intensivos e 12 (29%) precisaram de suporte respiratório.
Em média, os doentes ficaram internados por 11 dias. Os casos mais graves,
porém, permaneceram no hospital um tempo mais longo (51 dias). Três meses
depois de terem alta, 24 (57%) eram capazes de andar sem necessitar de
assistência. Nenhum paciente morreu.
Fonte: Globo Online/RJ:
01/03/2016