A voracidade do vírus da zika transformou o Brasil no
epicentro da mais recente crise de saúde pública internacional.
Em menos de um ano, passamos de zero registros à identificação do vírus em 18
Estados. Os número de bebês com microcefalia subiu de 150 para 4 mil, no mesmo
período. A crise nasceu em casa, mas já atravessa fronteiras com rapidez. O
principal assessor da Casa Branca para o tema chamou-a de "pandemia".
Há bons motivos para o susto. O hemisfério já viveu crises similares de febre
amarela, dengue, malária e encefalite. Mundo afora, os mosquitos matam mais
gente que qualquer outro inseto ou animal. Causando 725 mil mortes por ano, os
mosquitos superam até a carnificina das guerras causadas pelos próprios homens.
No entanto, as epidemias passadas também apontam o caminho de possíveis
soluções. Lidar com o zika demandará uma combinação dos quatro princípios
básicos que foram exitosos no passado: tecnologia de diagnóstico,
desenvolvimento de vacina, informação pública em tempo real e combate
incessante ao mosquito.
Não será fácil, pois tudo indica que uma vacina contra o zika pode demorar de
três a cinco anos para ser elaborada, e o sistema brasileiro de saúde enfrenta
sérias dificuldades próprias. Nesse contexto, poucas coisas ajudariam mais o
Brasil a lidar com o problema do que a obtenção de ajuda internacional
significativa. Isso, porém, demandará a criação de uma diplomacia do mosquito. Por
quê?
No ritmo atual, a expansão territorial do vírus tende a levar a Organização
Mundial da Saúde a criar um comitê de emergência. Tal passo desencadearia
medidas de vigilância, controles e restrições capazes de facilitar o trabalho
das autoridades em Brasília. Ou de dificultá-lo.
Além disso, países como Estados Unidos e Reino Unido já recomendam a seus
cidadãos que posterguem viagens ao Brasil, medida de impacto econômico certeiro
no ano dos Jogos Olímpicos no Rio. Modificar tal situação é possível, mas
demandará intenso trabalho diplomático de bastidor.
Por fim, estão os Estados Unidos. O presidente Barack Obama convocou seu
Conselho de Segurança Nacional para discutir o zika anteontem, ao passo que a
fundação de Bill Gates começa a investir no assunto. Juntos, Obama e Gates vão
criar as condições para uma campanha internacional pela erradicação do zika.
Eles podem ser grandes aliados da causa brasileira –se Brasília tiver os
instrumentos para participar do jogo.
Assim como o Aedes aegypti pode facilitar uma coalizão internacional possante,
pode criar um enorme constrangimento externo para o governo brasileiro.
Precisamos de uma boa diplomacia do mosquito para impedir o mau desfecho
Fonte: Folha de S. Paulo (SP)