Conselho aumentou o número de doenças que, caso
associadas a IMC superior a 35, habilitam paciente ao procedimento
Preocupado com o avanço da obesidade no País, doença que atinge um em cada
cinco brasileiros, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ampliou as indicações
para a cirurgia bariátrica. Em resolução publicada ontem no Diário Oficial da
União, o órgão médico aumentou a lista de doenças que, se associadas a um grau
médio de obesidade, habilitam o paciente a passar pelo procedimento.
A cirurgia segue sendo indicada para pessoas com índice de massa corpórea (IMC)
acima de 40 ou aquelas com IMC a partir de 35, mas que já apresentam
determinadas doenças associadas ao excesso de peso, as chamadas comorbidades. A
principal novidade da resolução é que o número de doenças associadas aceitas
passa de seis para 21.
Na resolução antiga, de 2010, pacientes com IMC entre 35 e 40 e que tivessem
uma das seguintes doenças poderiam fazer a cirurgia: diabete tipo 2, apneia do
sono, hipertensão, displidemia (nível altos de gordura), doença coronária ou
osteoartrites. A partir de agora, entram nesse grupo comorbidades como
depressão, asma grave, infertilidade e disfunção erétil.
Segundo o vice-presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, a decisão se
baseou em evidências científicas internacionais sobre os benefícios da cirurgia
para pacientes que ainda não apresentam obesidade mórbida (IMC acima de 40). “A
intenção é mostrar para a população que a cirurgia pode ser um tratamento
importante e necessário para alguns grupos de pacientes. Mas sempre devemos
lembrar que ela continua sendo a última arma a ser usada. A cirurgia não deixa
de ser uma agressão ao organismo.”
A norma do CFM mantém a regra de que, para ser elegível à cirurgia, o paciente
deve ser obeso há cinco anos e ter tentado o tratamento clínico (dieta,
exercícios e medicamentos) por pelo menos dois anos.
Para o endocrinologista Bruno Halpern, coordenador do Centro de Controle de
Peso do Hospital Nove de Julho, a norma representa um avanço ao incluir novas
doenças, mas peca ao não ser mais específica em alguns casos. “A depressão nem
sempre é causada pela obesidade. O quadro depressivo pode ser anterior ao ganho
de peso e tem de ser tratado, pois pode complicar no pós-operatório.”
Acesso. Coordenador do Centro de Obesidade e Diabete do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz e membro da câmara técnica do CFM que elaborou as mudanças na resolução,
Ricardo Cohen afirma que, embora a cirurgia seja o principal tratamento
indicado para pacientes com obesidade mórbida, uma pequena parcela da população
tem acesso a ela. “Em 2014 foram 94 mil cirurgias no País, o que representa só
2,5% do total de pessoas que têm a indicação para o procedimento”, explica.
Ele diz que, no grupo com IMC acima de 40, somente 2% a 3% conseguem perder
peso com tratamento clínico, o que torna a cirurgia importante. Foi o caso da
gestora ambiental Jéssica Rached, de 24 anos. Com distúrbio na tireoide, ela
tentou, sem sucesso, emagrecer. Em 2012, com 127 quilos, passou pelo
procedimento. “Hoje, peso 74 quilos e a principal mudança foi a melhoria na
qualidade de vida.”
Fonte: O Estado de S. Paulo